A dor que ainda assola
A vida é compreendida por fases. Nesse momento estou com 23 anos, porém, mesmo a infância deixando de ser uma realidade biológica e social em minha vida, rastros dela ainda estão firmes em mim. Hoje eu poderia dizer que vivi em 3 fases diferentes, mas essas não compreendem as classificações convencionais - infância, adolescência e Juventude; posso apenas classificar como antes e depois ou como antes de um acontecimento ruim e o reflexo disso em mais duas partes.
Falar, escrever, contar pra alguém essa história em qualquer época é sempre um momento desafiador e dolorido, porém hoje estou em um período em que preciso me expor para que eu mesma consiga me compreender. E é por isso que estou aqui, escrevendo publicamente sobre assuntos delicados e íntimos. A eu de agora deseja que menos Taís do passado existam.
Duas eus atrás e aconteceu. Eu desci as escadas da laje de casa e me deparei com um homem, muito parecido com meu avô materno, no portão a chamar. Logo fui até minha mãe que abriu as portas pra ele. Era seu tio. A Taís da época tinha 9 ou 10 anos e ficou alegre em conhecer alguém que parecia com o avô que tanto amava.
Na época víviamos numa casa com poucos quartos e eu dormia na sala, embaixo da escada. Apenas umas cortinas eram responsáveis por dividir a sala do meu quarto, mas eu não me importava tanto, até me divertia bastante por poder ficar sozinha no escuro. Mas diversões as vezes vem com um quê de maldade e nem sempre estamos com os olhos atentos para identificá-la e foi dentro desse contexto, que aquela criança encontrou na figura do tio de segundo grau, seu abusador.
Me lembro que algumas vezes ele dormia em casa, na sala e o sofá que lhe servia de cama e ficava ao lado da minha (separado apenas pelas cortinas) e quando a noite caía e todos já dormiam, acontecia. O seu dedo se localizava de forma pontual, mesmo com o mosqueteiro armado, entre minhas pernas. Acordei por vezes assustada e aflita por não querer acordar a todos e correr o risco de não acreditarem em mim. Durante algum tempo ele ainda brincava com meu irmão e eu de bicicleta, ou até de nos colocar nos braços e girar, mas sempre dava um jeito, mesmo eu o evitando, de tocar em mim.
Certa feita meu pai estava sentado com ele num banco na sala a combinar um trabalho. Não consegui segurar aquilo pra mim, até porque a televisão tinha acabado de noticiar a alguns dias, uma história de estupro envolvendo uma criança e eu não queria isso pra mim nem para as filhas dele que a pouco tempo havia conhecido. Minha mãe ouviu calmamente o meu sussurro e chamou o meu pai pra conversar. Ele não voltou mais lá.
Contaram a todos, menos a polícia. Meu avô que eu tanto amava se manteve neutro e disse que seu irmão tinha problema mental, minha mãe se manteve firme em querer denunciar, mas foi influenciada pelo meu pai que quis deixar isso quieto. Mas eu continuei com aquilo em mim. Eu ainda tenho aquilo em mim e sei que eu queria ter sido abraçada pelos meus pais e queria ouvir deles que o problema seria resolvido, contudo, a dor da omissão de todos eu ainda carrego em mim e sei que nunca vai deixar-me.
*O avô dessa história é o mesmo da postagem sem laço no meu sangue, só que a Taís daquela época pouco o conhecia.*
Falar, escrever, contar pra alguém essa história em qualquer época é sempre um momento desafiador e dolorido, porém hoje estou em um período em que preciso me expor para que eu mesma consiga me compreender. E é por isso que estou aqui, escrevendo publicamente sobre assuntos delicados e íntimos. A eu de agora deseja que menos Taís do passado existam.
Duas eus atrás e aconteceu. Eu desci as escadas da laje de casa e me deparei com um homem, muito parecido com meu avô materno, no portão a chamar. Logo fui até minha mãe que abriu as portas pra ele. Era seu tio. A Taís da época tinha 9 ou 10 anos e ficou alegre em conhecer alguém que parecia com o avô que tanto amava.
Na época víviamos numa casa com poucos quartos e eu dormia na sala, embaixo da escada. Apenas umas cortinas eram responsáveis por dividir a sala do meu quarto, mas eu não me importava tanto, até me divertia bastante por poder ficar sozinha no escuro. Mas diversões as vezes vem com um quê de maldade e nem sempre estamos com os olhos atentos para identificá-la e foi dentro desse contexto, que aquela criança encontrou na figura do tio de segundo grau, seu abusador.
Me lembro que algumas vezes ele dormia em casa, na sala e o sofá que lhe servia de cama e ficava ao lado da minha (separado apenas pelas cortinas) e quando a noite caía e todos já dormiam, acontecia. O seu dedo se localizava de forma pontual, mesmo com o mosqueteiro armado, entre minhas pernas. Acordei por vezes assustada e aflita por não querer acordar a todos e correr o risco de não acreditarem em mim. Durante algum tempo ele ainda brincava com meu irmão e eu de bicicleta, ou até de nos colocar nos braços e girar, mas sempre dava um jeito, mesmo eu o evitando, de tocar em mim.
Certa feita meu pai estava sentado com ele num banco na sala a combinar um trabalho. Não consegui segurar aquilo pra mim, até porque a televisão tinha acabado de noticiar a alguns dias, uma história de estupro envolvendo uma criança e eu não queria isso pra mim nem para as filhas dele que a pouco tempo havia conhecido. Minha mãe ouviu calmamente o meu sussurro e chamou o meu pai pra conversar. Ele não voltou mais lá.
Contaram a todos, menos a polícia. Meu avô que eu tanto amava se manteve neutro e disse que seu irmão tinha problema mental, minha mãe se manteve firme em querer denunciar, mas foi influenciada pelo meu pai que quis deixar isso quieto. Mas eu continuei com aquilo em mim. Eu ainda tenho aquilo em mim e sei que eu queria ter sido abraçada pelos meus pais e queria ouvir deles que o problema seria resolvido, contudo, a dor da omissão de todos eu ainda carrego em mim e sei que nunca vai deixar-me.
*O avô dessa história é o mesmo da postagem sem laço no meu sangue, só que a Taís daquela época pouco o conhecia.*


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